Portugal....aqui vou eu!

                Hoje embarco para Lisboa, o primeiro destino rumo ao Caminho Português para Santiago de Compostela. A bem da verdade, a primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho, eu tinha por volta de 12 anos de idade, e foi através da História do Galo de Barcelos, então Portugal sempre fez parte da minha relação com o Caminho.

                Em 2010, quando eu estava voltando para o Brasil, saí de Madrid e fiz conexão em Lisboa, e na aproximação a cidade, pela janela do avião pude ver o Tejo, o Padrão dos Descobrimentos, e acabei ficando na vontade, eu iria ficar apenas duas horas no aeroporto e não poderia visitar a cidade!

                Nós brasileiros, sempre teremos laços com Portugal, como se fossemos visitar a casa de um primo distante, que a muito não vemos mas que possuímos afeto.  Minha raízes lusitanas se perderam pela história da família, mas com certeza o Soares de Morais de meu sobrenome veio do outro lado do Atlântico.

                Apesar dos laços, pessoas da minha geração tem uma visão distorcida sobre Portugal, fruto da nossa educação escolar, lá pelos anos 1960 e 1970. Era um período conturbado no Brasil, tenso politicamente, e Portugal virou alvo dos dois lados que se opunham no Brasil. A direita no Poder, usou o período de colonização como escudo, para eles todos os problemas brasileiros eram ligados ao período colonial, então...arrumaram alguém para culpar pela bagunça para qual eles se autoproclamavam “salvadores”. Já a esquerda, fez um paralelo entre o Império Português e “Império Americano”, e novamente Portugal serviu como bode expiatório para aquele momento político, e como vários professores eram alinhados com a esquerda, nós pobres crianças ouvíamos que o único português gente boa foi Dom Pedro I ( ou..Dom Pedro IV para os portugueses), pois ele que havia nos dado a independência.  Em suma, o ataque ao nosso passado com Portugal foi talvez o único ponto em comum naqueles loucos anos de repressão.

                Mas passados todos esses anos, é mais que hora de nós brasileiros amadurecermos e virar essas páginas de intolerância.

                O que aconteceu durante o período colonial foi fruto daquele momento histórico, queiram ou não, tudo aquilo era natural naquela época, e não podemos querer analisar tudo que aconteceu a 500 anos atrás com a visão do século 21. E guardar rancores e preconceitos , é simplesmente ignorância, e intolerância, e ninguém ou nenhuma nação pode seguir rumo ao futuro sem que se deixe para trás sentimentos tão negativos e desnecessários.

                Quanto aos problemas que vieram do período colonial...bem...nossa independência  foi em 7 de setembro de 1822...já faz um bom tempo, então nós brasileiros já caminhamos o bastante, e as soluções desses problemas são nossas, se ainda não resolvemos é porque continuamos o “gigante adormecido” que não acorda mesmo com a corrupção barulhenta, com os altos tributos, e com os desmandos de pessoas que tem um projeto pessoal e não um projeto coletivo para o país.

                Essa analise sobre dois países, duas nações, pode muito bem servir como paralelo para relacionamentos pessoais! Simples...se duas pessoas carregam consigo problemas do passado, ressentimentos, jamais vão evoluir com a relação, o passado irá pesar, será um fardo. E, se alguém lhe fez um mal, que ficou marcado em sua existência, não passe o resto de sua vida reclamando do que a pessoa lhe fez, as mudanças e melhorias em sua vida dependem única e exclusivamente de seus atos no presente e no futuro. Não se queixe, tome uma atitude!

                Então, agora deixando a crítica sociológica de lado, em breve estarei descobrindo Portugal, convivendo com sua gente, aprendendo e esperando ver a revelação dos laços que unem os nossos dois povos!

                E no final, o presente, chegar novamente a Santiago....então..Portugal...prepare-se!! Aqui vou eu!!